Chalet Biester: Uma "joia" escondida na Serra de Sintra
- Catarina
- 11 de ago.
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O Palácio Biester, conhecido como a «Casa das Bruxas» devido aos seus telhados negros e inclinados, foi erguido na Serra de Sintra a pedido do casal Biester, Frederico e Amélia, ambos provenientes de importantes famílias portuguesas. A sua construção terá ocorrido no final do século XIX.

Um pouco acima da vila, à nossa vista, existe uma mansão chamada Chalet Biester. O seu telhado preto com guarnição turquesa causa muitas perguntas e desperta a curiosidade de muitos visitantes de Sintra. O Chalet Biester está aberto ao público desde 2022 e pode ser visitado todos os dias da semana.
Um exemplar ímpar da arquitetura romântica, tendo sido residência da família Biester
O Chalet Biester, situado na Estrada da Pena, à vista de todos que pela Vila de Sintra e que pelo alto do Castelo dos Mouros passam - passa quase despercebido aos visitantes - data de 1890, e a sua construção foi plano do arquitecto José Luís Monteiro - responsável entre outras obras pela nave da Estação do Rossio.
Para o interior do Chalet Biester, o escolhido foi Luigi Manini, arquitecto e pintor, que à altura vivia em Lisboa. Luigi Manini utiliza assim no interior frescos medievais, combinando-os com o gótico flamejante, e o estilo próprio da época, mescla da qual saem os vitrais multicolores encomendados em França, que dão um colorido clássico ao interior, iluminando também os móveis criados por Leandro Braga, o artista entalhador que criou igualmente peças para o Palácio da Ajuda, e para o Palácio de Belém (residência oficial do Presidente da República Portuguesa).
A edificação deste palácio remonta aos últimos 20 anos do século XIX (1880-1899).
O Palácio Biester constitui um exemplar ímpar da arquitetura romântica, tendo sido residência da família Biester, que o encomendou a José Luiz Monteiro, arquiteto de renome da arquitetura nacional, que lhe conferiu uma decoração singular e vários detalhes artísticos, que ficaram a cargo do mestre entalhador Leandro Braga e do artistas Luigi Manini e Paul Baudry.
Os detalhes decorativos que encontra no Palácio Biester são, sem dúvida, um dos seus maiores atrativos para uma visita mais demorada.
O mais extraordinário é que a recuperação deste palácio sofreu muito poucas alterações no que respeita à sua arquitetura original, assim como na decoração e obras seculares que nele pode encontrar.
O Casal Biester

O casal Biester, pese embora pessoas distintas e com uma posição social altamente sustentada, que também sabiam ser importante cultivar nos meandras das movimentações aristrocraticas, eram acima de tudo pessoas discretas e de bom gosto. Tanto Frederico como Amélia provinham de ambientes familiares consideravelmente abastados, em particular, Amélia de Freitas Chamiço Biester, que, como é sabido, era filha e sobrinha de dois dos grandes banqueiros da segunda parte do século XIX, Fortunato Chamiço e Francisco Chamiço, os quais, respectivamente, viriam a fundar o Banco Totta e o Banco Nacional Ultramarino. Tal resultou em que Frederico Biester, já de si um conceituado industrial com acentuado sucesso, de família com raízes em Lisboa e ascendência em Lübeck, na Alemanha, viesse ele próprio a herdar responsabilidade sobre as actividades dos Chamiço, ocupando-se da administração das produtivas roças de cacau e café que a família detinha em São Tomé e Príncipe, em especial a partir de 1888, quando faleceu Francisco Chamiço, deixando viúva Claudina de Freitas Guimarães Chamiço, ela que viria a ter papel preponderante na consecução do grande sonho da sua sobrinha Amélia Biester - o sanatório para ajudar as vítimas da tuberculose, a ser construído na Parede, em Cascais.
Apesar de serem parte interessada na gestão de uma das maiores fortunas do país, não são conhecidos ao casal Biester quaisquer laivos de altivez ou sobranceria, antes pelo contrário; do que se sabe, durante toda a vida ambos seguiram uma linha consistente de ajuda ao próximo e as causas beneméritas com grande dedicação no que respeitava às vítimas das epidemias e às crianças desfavorecidas. Reiterando o seu comportamento mais reservado em relação ao praticado pela aristocracia de então muito expansivas e dadas aos holofotes mundanos, os Biester parecem seguir o exemplo que já vinha de trás, atravez de Francisco Chamiço, que sempre tinha recusado as mais diversas homenagens títulos e cargos, os quais quais lhe eram assiduamente oferecidos em virtude do desenvolvimento económico que proporcionava ao país. Desta forma, podemos caracterizar o casar Biester como pessoas abastadas e empreendedoras, sem dúvida, do mais alto circulo financeiro mas providos de um espírito Missão admiravel, e com um nivel superior de consciência social, que raras vezes se tem encontrado na história do nosso país.
A Familia Biester
A história dos Biester é trágica, marcada pelo óbito da única filha do casal, em tenra idade, e pelo posterior falecimento do casal, com cerca de um ano de diferença entre os dois cônjuges. A sua história familiar tem sido distorcida com o passar das décadas, e em cada fonte a informação difere. A maioria foi vítima da pandemia de tuberculose que varreu Portugal há cerca de 150 anos, e o casal Biester terá sido a mente precursora para a criação do antigo Sanatório de Sant’ana (ideia levada a cabo, após a sua morte, pela única herdeira, D. Claudina Chamiço). Também no próprio Palácio Biester, a informação sobre a família é escassa. Porém, apesar do passar do tempo, a bela obra arquitetónica de José Luiz Monteiro permanece, passada de proprietário em proprietário, com obras de requalificação relativamente recentes e, mais recente ainda, a sua abertura ao público como património cultural de Sintra.
Ao longo de todo o Parque Biester, o visitante é surpreendido pela diversidade da flora exótica que encontra nesta bela obra de arquitetura paisagística, como é tão característico de outros parques de Sintra, permitido pelas suas tão bem conhecidas condições climatéricas.
Curiosidades
O Chalet Biester foi também palco de uma parte do filme The Ninth Gate (A Nona Porta) de Roman Polanski, em que o protagonista principal foi o actor Johnny Depp, assume o nome de Dean Corso, que é um especialista - um pouco ganancioso - de livros raros, e que a mando de um milionário (Boris Balkan) é mandatado para encontrar três cópias de Os Nove Portais para o Reino das Sombras, de 1666 e supostamente escrito pelo próprio Satanás e por um autor veneziano de nome Aristide Torchia - possívelmente inspirado na vida de Giordano Bruno. Em Sintra, Dean Corso vai a casa de Victor Fargas, detentor de uma cópia de Os Nove Portais para o Reino das Sombras, e que vive com um estilo de aristocrata em decadência que já sem mobiliário no Chalet Biester, vende o que resta da sua extensa colecção de livros para poder comprar comida e pagar os impostos. O filme é uma adaptação do livro The Club Dumas (1993) de Arturo Pérez-Reverte.
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