As emblemáticas calçadas portuguesas, que são hoje um símbolo português de cultura e arte. Pretas e brancas, simétricas ou não, as calçadas têm formas e desenhos que narram uma época. Quando se originou, em meados de 1500 as “calçadas à portuguesa” como eram conhecidas, utilizavam o granito trazido da região do Porto como matéria prima. Porém, o transporte tornou a continuação da obra inviável. Mais tarde, após o terremoto que devastou Lisboa, as calçadas, tal como as que conhecemos hoje, foram construídas com pedras de calcário preta e branca, e aplicadas em cubos com enquadramento diagonal. Reis, terremotos, presidiários e até um rinoceronte protagonizaram essa história, e hoje vamos contar um pouco mais sobre as Calçadas Portuguesas que encantam a todos que visitam Portugal.
A sua origem remonta á epoca dos Descobrimentos, como os navios partiam sempre vazios para os seus destinos, no sentido de regressarem ao país carregados de bens e mercadorias, necessitavam de aumentar a sua carga para garantir a sua estabilidade de navegação, o que em gíria marítima se chama de lastro. Ora, a solução foi carregar estas embarcações com pedra portuguesa.
Uma vez nos países de destino, foram os jesuítas e os militares que tiveram a ideia de as aplicar nas vias por onde passavam.
Este foi o primeiro passo daquilo a que, só no século XIX, se viria a chamar de calçada portuguesa, desta vez em solo português.
O revestimento de passeios, praças, pracetas e até a utilização destas pedras calcárias, claras e escuras, em obras de arte, colocadas de forma a criar desenhos, padrões, e muitas vezes de forma desordenada, são hoje uma das imagens de marca do nosso país.
A primeira calçada portuguesa pode parecer mito, mas as calçadas portuguesas tiveram origem por conta de um Rinoceronte chamado Ganga. Sim, a história se passou por volta de 1500 quando o Rei D. Manuel I de Portugal recebeu de presente do fundador do Império Português no Oriente, Afonso de Albuquerque, um rinoceronte ornamentado. O animal na época foi um acontecimento peculiar para Lisboa e toda Europa, já que desde o século III não se via um rinoceronte no continente. Foi a primeira vez que um animal de grande porte foi visto por estas bandas, desde a altura dos romanos.
Como o rinoceronte ficou famoso na cidade, o Rei o levava para um cortejo durante as festividades de seu aniversário. No entanto, o gigante mamífero de quase 2 toneladas andava pelas ruas e acabava por sujar as patas de lama e também toda a comitiva. O rei então ordenou que fosse pavimentado a rua com pedras de granito vindas da cidade do Porto para a ocasião a fim de resolver um problema.
A primeira rua calcetada, foi a Rua Nova dos Mercadores, antes Rua Nova dos Ferros. Elas têm início nas datas em 20 de Agosto de 1498 e 8 de Maio de 1500 com cartas régias assinadas pelo Rei D. Manoel I. Nessa época, o material utilizado foi o granito trazido da região do Porto, que mais tarde foi extinguido pela dificuldade de transporte.
Após o terremoto de 1755 que atingiu Lisboa, a reconstrução foi resumida às necessidades primarias e emergenciais e as calçadas portuguesas ficaram em segundo plano.
Já passado um século, no ano de 1842, o Governador de Armas do Castelo de São Jorge, tenente-general Eusébio Pinheiro Furtado, que era um engenheiro e conhecedor das técnicas de construção romanas, ordenou que fosse “calcetada” a Praça do Castelo de São Jorge utilizando pedras de calcário branco e basalto negro. A mão de obra utilizada foram os presos da cadeia do Limoeiro, chamados de ‘’grilhetas’’. Esta então criada a primeira calçada decorativa, mais conhecida hoje por Calçadas Portuguesas. A praça exibia um enorme tapete com formas zigue-zague que impressionou todos os lisboetas que por lá passavam. Infelizmente não é possível hoje vermos essa bela obra, pois com as reformas do Castelo na década de 40, a calçada foi destruída, deixando nenhum resquício do que esteve lá um dia.
Visto de cima, o Largo do Chiado, em Lisboa, assemelha-se a uma roseta de renda. Pedra branca pontuada a pedra negra, convergindo para o centro, com a estátua do poeta do século XVI, António Ribeiro Chiado, e recortada pelos carris do eléctrico 28. É um dos pedaços mais emblemáticos da calçada portuguesa, parte integrante da história de um dos símbolos do urbanismo em Portugal.
Mas com o impacto positivo que o calcetamento tinha deixado em Lisboa, não demorou muito para que novas praças fossem revestidas de pequenas pedras calcárias. Seis anos mais tarde, a importante praça do Rossio foi calcetada sob comando do mesmo engenheiro-militar tendo 8712 m2 revestidos em 323 dias. A praça com o desenho que simulava ondas pretas e brancas foi nomeada Mar Largo em homenagem aos descobrimentos Portugueses.
Mais tarde foi reproduzido no calçadão da praia de Copacabana do Rio de Janeiro. Após diversas reformas, o Rossio acabou por perder boa parte desse revestimento restando apenas uma área ao redor da estátua de D. Pedro IV. Felizmente, em 2003, o grandioso tapete foi refeito e mantém a grandiosidade do que já foi um dia. Com desenhos de ondas que transmitem ilusão de óptica dependendo do ponto de vista de quem observa.
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